O Navio Fantasma


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Compositor: Richard Wagner (1813-1883)

Maestro: Mark Minkovski

Direção: Olivier Py

Orquestra: Orquestra Les Musiciens du Louvre e Coro Arnold Schoenberg

Duração: 3 atos - duração: 2h15

Elenco:
Samuel Youn, Ingela Brimberg, Lars Woldt, Bernard Richter, Manuel Gunther, Ann-Beth Solvang e Pavel Strasil.

Este foi o título escolhido para a estreia de Richard Wagner no festival Ópera na Tela. E a escolha desta montagem não poderia ser melhor.

Wagner é a ambição. Ao compor O Navio Fantasma, desenvolverá um método definitivo de criação. De início, ele escreve o argumento em prosa para, em seguida, transformá-lo em um poema do qual extrai o libreto que, então, utiliza para compor a partitura. Poeta e músico, dedica-se à ideia da Gesamtkunstwerk – a “obra de arte total”. Nela, estarão a música e a poesia, assim como a arquitetura, a pintura e muitas outras artes. Os personagens, as ideias e os sentimentos principais serão representados, desde a abertura, por melodias que os anunciam e os caracterizam – o leitmotiv, que será usado em toda a sua obra. A orquestra torna-se um personagem. Wagner foi um revolucionário cujo impacto vai muito além da ópera. Ambição que, desde o início e em todas as vezes, a cada apresentação, o autor alcançou em bela plenitude.

O argumento de O Navio Fantasma nasceu, segundo Wagner, da viagem que ele foi obrigado a fazer com sua esposa Minna, em 1838, fugindo dos credores de Riga. Seu plano era chegar a Paris via Londres, mas a viagem é um desastre. Os passaportes são apreendidos, Minna sofre um aborto, e somente o capitão do pequeno navio Thetis aceita o casal de fugitivos. A viagem pelo Mar do Norte, prevista para uma semana, demora três, entre tempestades, calmarias e crises de enjoo. Teria sido neste local que Wagner imaginara criar O Navio Fantasma, combinando a sua jornada com a lenda da tradição oral alemã e o conto de Heinrich Heine.

A lenda conta a danação de Vanderdecken, um capitão holandês, que, na tentativa de dobrar o Cabo da Boa Esperança, ri do medo de sua tripulação e desdenha dos poderes de Deus que o condena (ou teria sido o Diabo?) a vagar eternamente pelos oceanos. Mas a cada sete anos ele tem a chance de aportar em busca de um amor verdadeiro que livre a ele e a seus marujos da maldição.

Em Paris, Wagner enfrenta imensas dificuldades financeiras, mas apresenta a partitura à Ópera de Paris em 1840. A obra é rejeitada com descaso por seu diretor, Leon Pillet, que adquire apenas o argumento. Transformando o libreto de três atos em um único, a ópera é então composta por Pierre-Louis Dietsch.

Convidado a supervisionar os ensaios de sua obra anterior, Rienzi, em Dresden, Wagner deixa Paris em 1842, levando os esboços do que ele sabia ser sua obra-prima e da qual não desistiria. Trabalha e confia na obra mesmo depois de recusada em Leipzig, Berlim e Munique. O sucesso consagrador de Rienzi lhe garante a montagem de O Navio Fantasma em Dresden, onde estreia em 2 de janeiro de 1843. Confundindo de início crítica e público, a obra se afirmará. Nesta ópera, está o romântico extremo: só o amor absoluto o livra da condenação de vagar sem porto. Só o amor lhe oferece um destino: mas ele precisará se provar total, irrestrito, incondicional.

Nesta audaciosa montagem do Theater an der Wien, a estrela é a música-poema de Richard Wagner. A direção superlativa do maestro Mark Minkovski à frente de sua orquestra Les Musiciens du Louvre e do incomparável coro Arnold Schoenberg, permite e exige uma atuação impecável de todo elenco, onde brilham a sueca Ingela Brimberg, no papel de Senta, e o baixo-barítono sul coreano Samuel Youn como o Holandês. Mas não se distraia do desempenho monumental do baixo alemão Lars Woldt, no papel de Daland. Além de vozes soberbas brilham também como atores.

De tanta vertigem se ocupa o consagrado diretor francês Olivier Py, mas ele sabe que não é o mar o que ali importa. Para além da tempestade, da vastidão do oceano vislumbrada num relâmpago, o alucinado clima da lenda, há a palavra que Senta escreve em cena com a fragilidade de um giz: Erlösung – Salvação, Libertação. Enquanto isso o demônio – na impressionante atuação do ator-bailarino tcheco Pavel Strasi – prepara-se para conduzir mais uma danação. Outra vez, irá assustar-se com a capacidade humana de surpreender até ele mesmo. A obsessão e a violência estão sempre por perto – a montagem estreou na véspera dos atentados em Paris de 2015. Sob o impacto monumental, todo o elenco rendeu homenagens. Mas a maior delas será escrita ao final, outra vez em giz: Erwartungm – expectativa.

Richard Wagner provoca admiração, paixão, devoção, ódio, horror. Só a indiferença não é permitida.

Bom espetáculo!

O capitão do Navio Fantasma é amaldiçoado a navegar para sempre até encontrar um amor fiel. Em uma emergência, atraca em um porto e conhece Senta. Senta rompe com seu noivo Erick e se entrega ao capitão jurando fidelidade. Erick tenta persuadi­la. O capitão vê a cena, entende que foi traído e parte de volta para o mar. Senta se joga no oceano tentando unir sua alma à dele. O Navio fantasma desvanece­se e ambos ascendem ao céu.

EXIBIÇÕES do filme O Navio Fantasma