Cavalleria Rusticana / Pagliacci


/// Foto: Nikolai Schmidt

Compositor: Pietro Mascagni (1863-1945) / Ruggiero Leoncavallo (1858-1919)

Maestro: Christian Thielemann

Direção: Philippe Stözl

Orquestra: Orquestra Staatskapelle Dresden

Duração: Cavalleria: 1 ato - Duração: 1h14 -- Pagliacci: 2 atos - Duração: 1h26

Elenco:
Cavalleria Rusticana: Jonas Kaufmann | Annalisa Stroppa | Ambrogio Maestri -- Pagliacci: Jonas Kaufmann | Maria Agresta | Tansel Akzeybek

A Metropolitan Opera de Nova Iorque foi a primeira companhia a apresentar Cavalleria Rusticana e Pagliacci juntas, em uma mesma noite, em 1895. Apelidadas de “CavPag”, se tornaram irmãs inseparáveis, e a lista de semelhanças e preferências são infindáveis: a época, a “escola” dos compositores, a duração, os sentimentos em questão, o Mezzogiorno de camponeses rústicos e de “honra” inflexível do sul da Itália. A união é excepcional, e não foi uma estratégia de seus compositores, Pietro Mascagni e Ruggiero Leoncavallo. As duas obras carregam afinidades musicais e dramáticas: ambas são tragédias violentas envolvendo infidelidade conjugal, em Cavalleria, Turiddu é o sedutor e em Pagliacci, Canio é o traído.

Estas óperas lideraram uma tentativa de revitalização de um gênero lírico, o verismo, que tem raízes na literatura italiana do final do século XIX. Por meio de Cavalleria Rusticana e Pagliacci, a ópera buscou uma nova dimensão dramática, dedicada às dores da paixão de forma “natural”, com a força do sentimento “vivido”, e distante dos temas da história, da mitologia ou mesmo das tragédias tradicionais. Ao buscar o “realismo” a ópera verista teria de conciliar “naturalidade” e “verdade” em uma obra de arte: mas, logo, por meio da música?

Se Cavalleria Rusticana é a primeira ópera verista, só dois anos depois, em Pagliacci, o manifesto do novo estilo se fez notado no famoso Prólogo, acrescentado à ópera a pedido de cantor lírico Victor Maurel. Tido como o melhor barítono verdiano de seu tempo, Maurel se entusiasmou ao ler a obra e se ofereceu para interpretar o palhaço Tonio, sugerindo que o autor expandisse o papel com uma ária. Será o famoso Prólogo que vai fazer de Leoncavallo o líder do “realismo” lírico. Tonio coloca a cabeça entre as cortinas fechadas, pede permissão ao público para falar e apresenta: “O autor procurou pintar um pedaço da vida. Sua única máxima é que o artista é um homem que para os homens escreve. E é inspirado pela verdade”. É como uma alegoria: “Eu sou o Prólogo!” – diz ao final. Esta introdução mostra que era impossível fazer da ópera um espelho fiel da realidade, ao contrário do que Tonio promete ao público.

Mas a “Verdade” é uma senhora complicada: apropriada por qualquer voluntarioso, a ninguém pertence. O que é isso? É, outra vez, a incompatibilidade entre as artes e seus manifestos. Alguns bem melhores do que suas obras; outros, como neste caso, são panfletos a sobrar e escorrer, melancólicos e inúteis, das obras que pretendem explorar.

A montagem aqui apresentada marcará época pela presença espetacular do tenor Jonas Kauffmann apoiada numa voz não muito grande, mas bem trabalhada e na atuação de um intérprete que neste filme se revela superlativo. Excelência que se deve a um trio poderoso: o próprio artista, o maestro Christian Thielemann e o diretor Philipp Stölzl, que trará muitos e sofisticados elementos para este amálgama maravilhoso.

O cenário se compõe de seis retângulos dispostos em dois andares de três “caixas”, e são apresentados em formato 16/9, ou seja, a tela do cinema, do tablet ou da tevê. É cinema quando se assiste e o diretor capta a cena em uma “caixa” e a projeta em outra, intensificando a trama. É cinema também na ambientação do primeiro título como um filme mudo alemão, e no segundo, numa caracterização felliniana, um certo Amarcord.

A Cavalleria se passa em preto e branco e são muitas as referências visuais – desenhos de George Groz, autores noir de HQ e, para nós, xilogravuras de Lasar Segall. Em Pagliacci a xilogravura está lá, mas as cores são vivas ou em pastel determinadas pelos saltimbancos e pela comedia dell’arte. Do ponto de vista dramático, Stölzl se ampara no cinema, mas não apenas nele. Sua narrativa da Cavalleria é de romance, com variedade de cenas e pontos de vista, enquanto a de Pagliacci celebra o teatro, onde cenários são trocados e a eterna correria dos bastidores acontece diante da plateia – o teatro dentro do teatro onde, nos avessos dos avessos, o palhaço encena sua vida real. O ponto alto da ópera – Vesti la giubba – é interpretada como um enorme crescendo, com uma interioridade nada verista, uma consciência a brotar e a revelar-se. E é pelo cinema que veremos a intimidade, a solidão, a violência a transbordar na maquiagem.

É assim que se revela o inesperado Kaufmann: o grande ator, para Diderot, se torna supremo ao parecer não atuar. É assim que o drama não está quando ele canta, mas onde ele está.

A orquestra e seu maestro, despreocupados se são alemães ou italianos, dedicam-se a oferecer uma sonoridade majestosa com a segurança e a gentileza exigida pelo elenco. É assim, pela grande arte, que se busca sem descanso e sem posse a Verdade – como o grande Amor.

Bom espetáculo!

Cavalleria Rusticana Turiddu fica noivo de Lola antes departir em uma missão militar. Lola não o espera e casa-se com o carroceiro Alfio. Ao retornar, Turiddu seduz Santuzza, mas se torna amante de Lola. Santuzza vê Alfio e lhe conta sobre a traição. O carroceiro jura vingança e desafia Turiddu para um duelo que culmina na morte do traidor Pagliacci A companhia teatral I Pagliacci chega a uma aldeia na Calábria, na Itália. Nedda, a jovem esposa de Cânio, tem um romance com Silvio e promete fugir com ele naquela noite após o espetáculo. Apaixonado por Nedda, o comediante Tonio alerta Cânio, que pega a esposa em flagrante. Durante a encenação, Cânio enlouquecido pelo ciúme mata Nedda e Silvio.

EXIBIÇÕES do filme Cavalleria Rusticana / Pagliacci