La Traviata


Giuseppe Verdi: La Traviata/ ML Pablo Heras-Casado/ R Rolando Villazón/ B Johannes Leiacker/ K Thibault Vancraenenbroek/ Premiere der Neuinszenierung 22.05.2015 / Pfingstfestspiele Festspielhaus Baden-Baden

Compositor: Guiseppe Verdi (1813-1901)

Maestro: Pablo Heras-Casado

Direção: Rolando Villazon

Orquestra: Orquestra e Coro Balthasar Neumann Ensemble

Duração: 3 atos - duração: 2h30

Elenco:
Olga Peretyatko, Atalla Ayan, Simone Piazzola

Uma mulher linda, alegre e contente de si mesma a ser cortejada, desejada, festejada pelos homens e pela eterna festa que é Paris. Violetta se deixa ser amada sem se permitir amar. Sedução, na sua raiz latina, significa “por em movimento”. E é a isso que ela se dedica, nestas engrenagens movidas a apostas, brindes de “Champagne” – as necessárias doses de esperteza e frivolidade. E a mão invisível que não para de mover todos os presentes – protagonistas ou figurantes – não se retém nem se apressa no seu ofício, na sua natureza de esvair-se: o tempo.

La Traviata não conta a história das festas parisienses. Violetta não é Don Giovanni: ela não coleciona, ela não foge, ela não se furta nem se dedica a desejar. Ela sabe que é loucura recusar a segurança desse palco, um tanto ridículo, mas seguro, do salão de cortesã que conquistou e domina. Sabe que são frias as ruas de Paris, mesmo para as mais bonitas moças. Mas eis que – loucura! – Algo surge, inesperado e belo, jovem, ingênuo, entregue e exigente na forma de um rapaz: o amor. O tal amor. E ela não pode, não quer resistir. A loucura de Violetta é consciente – este é o seu drama. E ela, romântica, será sintetizada, mais de um século depois, pela moderna Clarice Lispector na frase-verso que abre A Hora da Estrela: “Pensar é um ato. Sentir é um fato”.

Violetta entra, em cena, alquebrada, tentando controlar a tosse. Caminha descalça sobre o imenso mostrador de um relógio. O tempo que se esvai. Encontra uma caixinha de música de onde faz tocar uma melodia melancólica e encontra, numa gavetinha, um broche e, nele, um retrato. Os violinos começam a tocar a abertura, e Violetta vê abrirem-se as cortinas de suas memórias, revê, junto com a plateia, o que importa de sua história que está por terminar.

La Traviata é a ópera mais conhecida e executada de Verdi e de todo teatro lírico. E as razões são mais que evidentes: pela sua música, é claro, com a eficiente simplicidade com que Verdi trabalhava seus efeitos essencialmente teatrais. Depois, pelo libreto que não se encabula em ser melodramático para tratar de temas de enorme interesse no final do século XIX, e que não deixaram de fascinar o XXI: a redenção pelo amor, a fatalidade da “mulher perdida”, traviata – desviada.

Violetta é uma heroína de romance e La Traviata concentra na figura dramática tudo o que importa: como ela carrega a dor do mundo, como seu canto a desnuda, como ela quase não se ausenta, como é capaz de morrer de amor enquanto sua agonia se inscreve na música. Violetta foi pega de surpresa, está trêmula de esperança e resignada pelo destino trágico que a oprime. Mas Violetta é uma personagem que exige tudo de sua intérprete, que ela se entregue de forma ardente, que se consuma, colocando no papel não apenas o melhor da sua voz e toda a intensidade de sua atuação, mas, também, algo de si mesma – de quem ela é. O brilhante tenor Rolando Villanzón dirigiu a montagem e seu acerto foi a escolha da maravilhosa soprano russa Olga Peretyatko – que o público poderá também apreciar em outro título do festival, o Rigoletto, da Ópera de Paris.

La Traviata é uma ópera para soprano, não para seu diretor, uma cantora que marque o nosso tempo e que mostre estar pronta para estes desafios – esta é Violetta vocal e fisicamente. A intenção ardente de Verdi era condenar violentamente a hipocrisia social que ele próprio teve que enfrentar. Sua paixão por Giuseppina Streponi – uma soprano de grande sucesso, mulher independente, mãe de três filhos “ilegítimos” – foi atacada de forma covarde e virulenta pela sociedade. O diretor Villanzón nos transporta ao interior da caixinha de música, numa viagem abstrata às memórias de Violetta, onde os personagens são reduzidos ao absurdo e ao desperdício. E ela não agoniza em arrependimento ou fúria, mas entre o delírio e o arrependimento alheio que a redime enquanto agoniza e que não pode salvá-la.

Alfredo de Atalla Ayan, grande tenor brasileiro (paraense) da atualidade e Giorgio Germont de Simone Piazzola apoiam dedicadamente o desempenho radioso de Olga Peretyatko. O maestro Pablo Heras-Casado, na regência do Balthasar-Neumann-Ensemble e Coro, acerta ao escolher o rendilhado, algumas vezes camerístico, acompanhamento em vez de escolher por mais uma versão corriqueira, cheia de furiosas sonoridades retumbantes, que costumam disputar as atenções com Violetta. Ela está ali para contar sua história de amor, de loucura, da única integridade que ao final importará: a que teve diante de si mesma. Para nossa sorte, ela sempre voltará para contar e recontar. E nós nunca a esqueceremos.

Bom espetáculo!

Violetta é a mais famosa e sofisticada cortesã de Paris e apaixona-se por Alfredo, que já a amava. Temendo a reação do pai do rapaz – e da sociedade parisiense - mudam-se para o campo. Procurada por Giorgio Germont, pai de Alfredo, ela se afasta de seu amado e parte. Alfredo se sente traído e tem raiva. O pai, arrependido, revela a verdade, mas quando Alfredo retorna Violetta está gravemente doente e morre em seus braços.

EXIBIÇÕES do filme La Traviata