Fausto


2-fausto

Compositor: Charles Gounod (1818-1893)

Maestro: Gianandrea Noseda

Direção: Stefano Poda

Orquestra: Orquestra e Coro do Teatro Regio di Torino

Duração: 5 atos - Duração: 3h00

Elenco:
Charles Castronovo | Ildar Abdrazakov | Irina Lungu | Vasilij Ladjuk | Ketevan Kemoklidze

Fausto, a obra-prima de Goethe, é, mais que tudo, a luta de um homem para superar seus limites: ele precisa saber mais. O Fausto de Gounod é um homem velho, solitário e arrependido de sua busca pelo retorno à juventude. Não por acaso, Mefistófeles o convence a assinar seu contrato, da venda de sua alma, mostrando-lhe apenas uma miragem de beleza, graça e juventude: Marguerite. A jovem humilde e ingênua será seduzida, abandonada e, em seguida, irão matar seu filho. E o que acontecerá a ela?

Para tentar converter o “Weltanschauung” – a visão de mundo colossal e multifacetada de Goethe – em música, Charles Gounod e seus libretistas Jules Barbier e Michel Carré concentraram-se na leveza de Marguerite e na sua relação com Fausto. O libreto é adaptado da peça teatral Fausto e Marguerite, do próprio Carré, que, por sua vez, foi uma adaptação de Goethe.

Tudo começa numa antiga história da tradição oral alemã sobre um Fausto erudito que, em sua busca contínua de conhecimento, ciência, sabedoria, e nunca satisfeito, invoca o diabo – Mefistófeles – que se oferece para servi-lo e levá-lo ao conhecimento absoluto, ao preço de sua alma. É a velha história: a maçã, a serpente, Adão e Eva. Conhecimento em troca de condenação. Mas o que estes autores fizeram foi criar uma outra obra-prima de arte que chegou a virar mania.

Coproduzida pelo Teatro Regio de Turim, a Israeli Opera Tel-Aviv e a Opéra de Laussane, esta montagem reuniu dois diretores talentosíssimos e que, juntos, tornam-se excepcionais: o maestro Gianandrea Noseda e o diretor de cena, cenógrafo, figurinista, coreógrafo e iluminador (funções desempenhadas por ele neste filme): o visionário Stefano Poda, que vimos em agosto, no Brasil, para a criação da obra “Titã”, de Malher, com o Balé da Cidade de São Paulo.

O resultado é este Fausto lutando entre o concreto e o infinito, oscilando entre o sagrado e o profano, religião e ateísmo, retrato e caricatura, em imagens poderosamente simbólicas.

A vertigem musical ininterrupta de Gounod é abordada numa sequência de cenas que os adjetivos a fazem murchar, quase entristecer. É necessário ver! O palco está dominado por um imenso anel. Ao longo do espetáculo, lentamente, ele sobe e desce, gira, divide-se, espalhando um ritmo sagrado e solene. Em certo sentido, o anel simbólico pode aludir ao ciclo de vida, à circularidade a que a vida humana é condenada, a viver e a morrer, sem a oportunidade de fechar o círculo para alcançar algo mais elevado. Mais tarde, o anel será preenchido por uma árvore branca, realçando a metáfora da vida, que também entrará em colapso em torno de Marguerite como antecipação de seu destino infeliz – de abandono, prisão e loucura.

Como Poda também é coreógrafo, vale destacar a valsa no final do Ato II, uma dança neurótica articulada em gestos desconectados, uma cena impressionante. Uma valsa sombria, de ações loucas e de movimentos repetitivos. A “Noite de Walpurgis” é outro momento esplêndido de frenesi palpável e demoníaco: uma grande orgia de sórdidos mímicos cobertos com lama.

O maestro Gianandrea Noseda é um desses regentes, cada vez mais raros, que entende o pódio como forja, a orquestra como ente a ser amalgamado, reluzente e doce, como essência desse milagre de incontáveis partes que resulta a ópera. A orquestra é maior que o canto, que a cena, que o movimento, que a palavra – até que a própria música. Reúna os melhores músicos e teremos uma reunião de ótimos músicos. Uma orquestra é outra coisa, vai muito além da soma, de tudo – mas ainda será uma orquestra. Noseda é um maestro que opera o milagre de fazer com que desapareçam os personagens, o coro, a declamação, o palco e a plateia. Tudo, cada um deles e todos nós seremos Faustos, Mefistófoles e Marguerites. A experiência viva da arte conduzida por um artista excepcional.

A soprano russa Irina Lungu interpreta uma Marguerite delicada e intensa, graças a uma presença cativante no palco, uma técnica elegante e um timbre cristalino e admirável. Charles Castronovo é um Fausto vigoroso e cheio de sonoridade. Ildar Abdrazakov apresenta um Mefistófeles altaneiro e traiçoeiro, com uma voz sólida que enfeitiça os protagonistas da trama.

Durante séculos, a ópera foi assistida em teatros da Corte por algumas centenas de empoados aristocratas. Depois, no século XIX, os teatros burgueses cresceram muito para abrigar até dois milhares de espectadores. Hoje, a opera é também cinema e a cada temporada seu alcance se estende. Artistas, assim, engendram ainda mais beleza nessa esplêndida arte da ópera-cinema. E é bom oferecer uma certa alegria. E uma certa gratidão.

Bom espetáculo!

Alemanha, século XVI. Pensando em suicídio, Fausto convoca o satã e faz um acordo para vender sua alma em troca do elixir da juventude. Transformado, sai em busca da jovem Marguerite. Apoiado por ​Mefistófeles, a conquista, concebe um filho e a abandona. Arrependido, retorna para salvá-­la da execução mas, horrorizada, Marguerite pede proteção divina e morre.

EXIBIÇÕES do filme Fausto