Rigoletto


Du lundi 11 avril 2016 au lundi 30 mai 2016

Compositor: Guiseppe Verdi (1813-1901)

Maestro: Nicola Luisotti


Direção: Claus Guth

Orquestra: Orquestra e Coro da Ópera de Paris

Duração: 3 atos - duração: 2h30

Elenco:
Michael Fabiano, Quinn Kelsey, Olga Peretyatko, Rafal Siwek, Vesselina Kasarova, Isabelle Druet, Mikhail Kolelishvili, Michal Partyka, Christophe Berry, Tiago Matos, Andreea Soare, Adriana Gonzalez e Florent Mbia.

Um corcunda cantando …. Por que não? …. Eu acho que é esplêndido para mostrar esse personagem exteriormente deformado e ridículo, e interiormente apaixonado e cheio de amor.                                                                                                                          G. Verdi

A corcunda já quase desapareceu nas montagens mais recentes, mas as contradições dilacerantes do bobo da corte ainda fazem de Rigoletto uma das dez óperas mais apresentadas nos palcos do mundo. Essa popularidade foi conquistada – como é marcante em Verdi – sem vulgarizar a obra, sem desrespeitar o público.

A ópera foi composta por encomenda do teatro La Fenice, em Veneza, e, quando estreia em 1851, é a obra de um Verdi já famoso aos 38 anos, com uma agenda de viagens que não lhe dá descanso, com encomendas de novos títulos e remontagens que o levaria ao triunfo. Rigoletto é o título que abre a grande trilogia do sucesso verdiano, logo seguido, em 1853, por Il Trovatore e La Traviata. Seu libretista, Francesco Maria Piave, tem muitas qualidades: a poesia, a técnica apurada, a coragem de enfrentar os censores – a amizade que os uniu.

A ópera foi baseada na peça de Victor Hugo, Le Roi S’Amuse, censurada após a estreia. Proibida na França, ameaçada de censura pelos austríacos que, na época, controlavam os teatros do norte da Itália, a ópera passa a retratar um duque, não mais um rei, e sua corte. Devassos e covardes, são subservientes aos poderosos enquanto humilham e usam os mais humildes. Os homens comuns que, como Rigoletto, pensam que por estarem próximos aos nobres da corte, lhes é permitido algum tipo de intimidade, são destruídos. Verdi não é um republicano a caçoar da nobreza, mas um artista a expor, sem candura ou clemência, que o poder arrisca sempre a se transformar em soberba e arrogância, em vício e crime. Por isso, precisa das artes a fustigá-lo e a mostrar o ridículo dos poderosos, ao contrário das qualidades vendidas pela política. O que pode ser mais moderno?

Até hoje, não raro o vilão é repulsivo e perverso e o herói atraente e piedoso. Mas em Rigoletto ninguém é apenas bom ou mau; todos são ambíguos e complexos, isto é, atuais.

O convívio com os prestigiosos, com seu escárnio e desprezo pelo outro, seu ofício de agradar, de transformar em riso os erros e medos, não é compatível com uma vida de amor à filha Gilda, mantida pura e distante, enquanto vai se tornando mulher. Ela não é apenas a filha, mas lembranças da mulher amada e perdida, sua vida inteira dedicada à menina que se tornou sua alegria, seu motivo, sua razão, tudo para ele – e ao perdê-la, ele tudo perderá. Um mundo invadirá o outro e toda a proteção se transformará em ameaça, toda felicidade em tragédia – e não será, como ele acredita, por meio de uma maldição. Rigoletto será vítima, mas também artífice.

Toda essa riqueza teatral não resultaria em uma grande ópera sem a beleza da música do autor. Verdi revoluciona a música ao derrubar os limites entre a melodia e os recitativos e sem finales. A abertura logo nos previne que este é um mundo estranho, e que nele, de dentro da tristeza e do medo, Rigoletto terá que arrancar humor para diversão dos cortesãos. A ópera está repleta de melodias definitivas – como Questo o quella, Pari siamo, Caro nome, entre outras, mas nenhuma supera o sucesso de La donna è mobile. Verdi, consciente de seu clamor, proibiu o tenor de cantar a ária durante os ensaios para que não fosse antecipado ao público a melodia inesquecível. No dia seguinte à estreia, toda a cidade cantava e assoviava a melodia. Prepare-se, leitor, o mesmo acontecerá a você amanhã!

A brilhante montagem de Claus Guth na Ópera de Paris realiza o sonho mais permanente de Verdi: uma grande música para fazer grande teatro. Ele parte de um argumento que exacerba o tema central da ópera: o arrependimento enlouquecedor. Como um clochard parisiense, um mendigo destituído de qualquer valor, Rigoletto carrega uma pequena caixa de papelão onde parece assistir ininterruptamente a sua própria tragédia, torturando-se sem qualquer pequena chama que lhe indique o perdão. E é esta pequena caixa que toma o tamanho de todo o imenso teatro da Bastilha – a caixa é Rigoletto, toda sua memória, tudo o que ele foi. A caixa o domina!

A direção do maestro Nicola Luisotti valoriza a voz impressionante de Quinn Kelsey como Rigoletto, o desempenho magnífico de Michael Fabiano como o Duque de Mantova e esse fenômeno que é Olga Peretyatko como Gilda. Destaca-se, ainda, a atuação comovente do ator Pascal Lifschutz, como o duplo de Rigoletto.

Bom espetáculo!

 

Bobo da corte do Duque de Mântua, Rigoletto é odiado por todos, especialmente pelo Conde Ceprano, cuja esposa, o Duque deseja. Amaldiçoado pelo Conde Monterone, tem sua filha Gilda raptada e cortejada pelo Duque disfarçado. Em uma armadilha contrata o assassinato da própria filha, pensando ser para o Duque, e cai em desespero.

EXIBIÇÕES do filme Rigoletto