Os Dois Foscari


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Compositor: Giuseppe Verdi 
(1813-1901)

Maestro: Michele Mariotti


Direção: Alvis Hermanis


Orquestra: Orquestra do Teatro alla Scala


Duração: 3 atos - duração: 2h09

Elenco:
Plácido Domingo, Francesco Meli, Anna Pirozzi, Andrea Concetti e Chiara Isotton.

Verdi chamava de “as galés” o período inicial de sua carreira em que escreveu seis óperas. O ritmo não diminui com o sucesso e chega a ser difícil compreender a verve criativa e a energia física que ele dedicou à sua obra. I Due Foscari, sua sexta ópera, foi composta aos 31 anos e é uma de suas criações mais escuras e tristes. Em essência, é a tragédia de um pai que nada pode fazer para proteger sua família – o compositor tentava ainda resistir à experiência devastadora, de alguns anos antes, da perda da esposa e de seus dois filhos pequenos.

A encomenda para o palco menor, mais íntimo do teatro La Fenice, de Veneza, era a oportunidade perfeita para o desejo de Verdi de romper com as grandes óperas e seus imensos coros como ele havia escrito para o La Scala. Foi também a primeira de muitas óperas escrita com o libretista Francesco Maria Piave.

Quando o convite chegou, em 1843, Verdi já tinha planos para adaptar o drama de Lord Byron. Acusado de corrupção, traição e cumplicidade em um crime, depois de torturado, Jacopo Foscari é arrastado até o pé do trono de seu pai, Francesco Foscari –o Doge de Veneza. Impotente para salvá-lo, o pai terá que decidir se assinará a condenação de seu próprio filho. Ao final, forçado a abdicar pelo Conselho dos Dez, Francesco morre ouvindo os sinos comemorando a eleição de seu sucessor.

O compositor sabe tudo o que pode tirar dessa tragédia política e familiar: “Este é um assunto que deve ser tratado, e que se presta muito como música, porque transborda paixão”. Ele volta à temas como exílio e nostalgia da terra natal, essencial para Nabucco (1842) e a escuridão da prisão e a alma dilacerada por tormentos interiores, como em Oberto (1839). Há também novos temas que aparecerão em futuras produções verdiana – o desespero paterno de Rigoletto (1851), a meditação dolorosa sobre a solidão do poder de Philippe II, em Don Carlos (1867), assim como a traição e a vingança que levam à queda e à morte prenunciam a ópera Otello (1887).

Mas logo Verdi compreende que esta não é a escolha mais sábia para atender um pedido de Veneza. O livro revela um retrato intransigente da vida política da cidade em meio às rixas antigas entre famílias poderosas cujos descendentes ainda são a nata da sociedade. Sob o pretexto de que o drama retrata as famílias Loredano e Barbarigo a censura rejeita o projeto. Verdi abandona Byron e, a partir de Victor Hugo, faz para Veneza uma das suas obras-primas: Ernani.

Uma nova oportunidade aparece no Teatro Argentina, em Roma, para o qual Verdi compõe uma ópera, muito rapidamente, no verão de 1844. A estreia, em 3 de novembro de 1844, de I Due Foscari foi um grande sucesso, apesar de estar longe do triunfo de Nabucco e Ernani. Verdi a considerava um tanto uniforme em sua tristeza que não se limitava à incrível beleza dos papéis de barítono e tenor. A riqueza orquestral associada à intensidade dramática do coro seduzem imediatamente a todos. Verdi usa, pela primeira vez, temas instrumentais para caracterizar os personagens, criando uma atmosfera de melancolia íntima que ajuda a acertar os limites dessa luta pungente entre a razão e os sentimentos de Estado.

Apesar de todas estas imensas qualidades, I Due Foscari nunca esteve entre os maiores sucessos de Verdi, nem foi um título frequente nos grandes teatros. Mas ela ressurge de tempos em tempos, como nas décadas de 1960, 1980 e 1990. E agora, uma vez mais. Uma nova produção foi apresentada pela Los Angeles Opera em 2012, tendo no papel principal o próprio diretor geral da companhia, Plácido Domingo, que cantava pela primeira vez o papel para barítono de Francesco Foscari. O sucesso tremendo levou a ópera e seu anjo da guarda a Valencia em 2012, Viena e Londres em 2014, Barcelona em 2015, e esta produção de La Scala de Milão, em 2016.

Plácido Domingos destaca-se por sua admirável musicalidade, beleza de timbre vocal, impressionante presença cênica – e não se pode deixar de registrar a fenomenal longevidade vocal de Domingo. O trágico Francesco Foscari está ainda mais adequado a Plácido Domingo do que outros papéis de barítono interpretados por ele recentemente. Aos 75 anos ele é o Francesco definitivo.

Bom espetáculo!

Os dois Foscari são Francesco e seu filho Jacopo, que voltou do exílio para enfrentar as acusações de traição. Jacopo é inocente, mas nem os apelos de sua mulher Lucrecia nem os do seu poderoso pai são suficientes para salvá-lo da condenação pelo hostil Conselho dos Doze.

EXIBIÇÕES do filme Os Dois Foscari