Iolanta / O Quebra-Nozes
Compositor: Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893)
Direção: Dmitri Tcherniakov
Orquestra: Orquestra e Coro da Ópera de Paris
Duração: 1 Ato - duração: 3h00 (opera e balê)
Elenco:
Elenco Iolanta: Alexander Tsymbalyuk, Sonya Yoncheva, Arnold Rutkowski, Andrei Jilihovschi, Vito Priante, Roman Shulakov/ O Quebra-Nozes: Marion Barbeau, Stéphane Bullion, Corpo de Baile da Ópera de Paris
Tchaikovsky é um dos mais populares compositores do mundo, e suas sinfonias e concertos são interpretados incontáveis vezes todos os anos, mundo afora. A beleza, ao mesmo tempo, exuberante e simples de suas inesgotáveis melodias, a riqueza de sua orquestração, a intensidade tanto de seus momentos mais brilhantes quanto nos mais melancólicos são uma espécie de emocionante convite à aceitação humana, de uma verdade que só a música pode exprimir. Seus balés são os mais executados e amados dentro de sua obra, muitíssimo mais conhecidos que suas belíssimas óperas. Este Quebra-Nozes é obra consagrada do calendário natalino das maiores companhias de dança, dos cinemas e das emissoras de tevê. Mas eis que, mais de cem anos depois, revela-se ao grande público que seu adorado balé foi composto em conjunto com a ópera Iolanta. E o encanto – surpresa! É ainda maior.
As duas obras foram compostas quase ao mesmo tempo e estrearam na noite de 6 de dezembro de 1892 no Teatro Mariinsky, em São Petersburgo, que encomendara as peças à Tchaikovsky, mas o impressionante sucesso do balé parece ter eclipsado Iolanta. Após a morte de Tchaikovsky em 1893, o compositor e maestro Gustav Mahler garantiu sua estreia alemã em Hamburgo. Uma nova produção de Iolanta será realizada somente em 1940 pelo Bolshoi que teve o cuidado de apagar qualquer referência religiosa para não violar a ideologia soviética. Entretanto, será apenas em 1984, que o maestro Mstislav Rostropovitch vai registrar essa ópera, na Sala Pleyel, em Paris, em um renascimento de Iolanta graças à magnífica interpretação da grande soprano russa Galina Vichnievskaïa. No verão de 2009, em Baden-Baden, Anna Netrebko apresentou a sua Iolanta, que rodou o mundo em consagração. Indagada sobre as razões de sua preferência para o papel-título de Iolanta, sua resposta foi muito simples: “É música que faz você feliz. É uma ópera magnífica”. Mas as duas pequenas obras continuavam separadas.
Tchaikovsky tinha previsto em 1883, escrever uma ópera a partir de “A Filha do Rei René”, do dramaturgo dinamarquês Henryk Hertz (1798-1870), a quem devemos quarenta livros. Entregou a escrita do libreto a seu irmão Modest. O resultado satisfez ao compositor que compôs primeiramente o balé a partir do conto O Quebra-Nozes escrito por E.T.A. Hoffmann em 1816.
O que há em comum entre esses dois títulos? Música, é claro! Possuem a pungente luz de Tchaikovsky, sua milagrosa invenção melódica. Mas também há essas duas mocinhas diante dos desafios de conhecer a si mesmas e o mundo. Iolanta nasceu cega e seu pai, o Rei, construiu em torno dela um jardim e em volta dele um castelo – e nele é proibido entrar, sob pena de morte! Assim, Iolanta jamais saberá que a visão existe para todos, menos para ela. Que a cegueira não é universal e que a sua pergunta é quase insuportável: “É possível que os olhos não sejam apenas para chorar?”. Em apenas um único ato teremos uma lição despretensiosa e humana a respeito do triunfo da luz sobre a escuridão depois de um “rito de passagem” que lembra a Flauta Mágica de Mozart.
A heroína do Quebra-Nozes, Marie Stahlbaum (a menina-moça de idade, para mim, sempre enigmática), se chama Clara que, quando é uma boneca, empreende sua jornada em um sonho – mas ainda assim uma jornada – repleta de revelação e transformação. E aí está, no encontro das duas obras, o toque de gênio do diretor artístico desta montagem, o russo Dmitri Tcherniakov: uma obra virá da outra. Sem interrupção, o proscênio se alarga, e Iolanta se completa no Quebra-Nozes. Sem qualquer banalidade, com grande acuidade para dirigir atores, precisão nas cenas de grupo e reações emocionadas que vão do riso às lágrimas – são essas as assinaturas de Tcherniakov. E seu alto nível de realização distingue essa produção que será lembrada como marco dessa ressurreição.
Quase impossível imaginar um outro lugar que não a Ópera de Paris para um par tão magnífico de ópera e balé. Seus artistas são fabulosos, sua orquestra é perfeita para estes acompanhamentos precisos e líricos e está soberba nas mãos do maestro Alain Altinoglu. A Iolanta da soprano bulgara Sonya Yoncheva é incandescente, uma beleza feliz a cada momento, e se destacam também, as magnificas vozes do baixo Alexander Tsymbaliuk em Rei René, e do barítono Vito Priante, “padrinho” do Festival Ópera na Tela.
E ainda que este não seja um festival de Balé na Tela, abençoados sejam todas as estrelas do corpo de baile da Ópera de Paris. Suas coreografias foram confiadas a três destacados coreógrafos contemporâneos: Arthur Pita, para festa de aniversário, Edouard Lock, para a viagem no cérebro da heroína e o belga-marroquino Sidi Larbi Cherkaoui, para a famosa valsa das flores.
Bom espetáculo!
Iolanta: A princesa Iolanta é cega de nascence, mas não sabe da existência da visão. Buscando a cura da menina, o rei encontra um médico mouro que revela que a cura depende de que Iolanta saiba a verdade e queira enxergar. O rei declina. Um conde a visita, se apaixona e revela a verdade. Iolanta faz o tratamento e se cura. O Quebra-Nozes: No jantar de Natal, Clara vê um anjo que profetiza que a noite será mágica. Drosselmeyer chega à festa fazendo truques mágicos e dá vida à bonecos. O presente mais desejado é o Quebra-Nozes. Clara adormece e sonha com um mundo mágico e encantado que explora junto do soldado.