Gianni Schicchi


4-gianni-schicchi

Compositor: Giacomo Puccini (1858-1924)

Maestro: Grant Gershon

Direção: Woody Allen e Kathleen Smith Belcher

Orquestra: Orquestra e Coro da Opera de Los Angeles

Duração: 1 ato - duração: 0h50

Elenco:
Plácido Domingo, Arturo Chacón-Cruz, Andriana Chuchman, Meredith Arwady

Não era raro que Dante transformasse seus desafetos em personagens, em geral os da pior espécie e Gianni Schicchi foi um deles. Pode ser surpreendente que seiscentos anos depois, um outro gênio italiano, Giacomo Puccini, tenha escrito uma ópera burlesca baseada na história de Schicchi. Mas foi o que ocorreu, senhoras e senhores! Nesses caminhos tortuosos e nublados por onde se encontram, mais vezes do que esperamos, o trágico e o cômico, a erudição e a comunicação.

Último trabalho concluído de Puccini – já que a ópera Turandot ficou incompleta – Gianni Schicchi é a terceira ópera da trilogia Il Trittico, que compreende Il Tabarro, um melodrama, e Suor Angelica, uma tragédia sentimental. Puccini queria que as três óperas formassem um conjunto, mas desde que estrearam no Metropolitan de Nova York em 1918, as plateias têm geralmente preferido Schicchi e muitas vezes ela é realizada sozinha.

Não é raro que grandes cineastas dirijam óperas e a ideia de que Woody Allen o fizesse é brilhantemente óbvia. Numa entrevista sobre como se sentia nessa nova função, ele declarou que o melhor é que continuava a ser quem era, sem tentar se passar por um temperamental diretor de divas: “Eu não tenho a menor ideia do que estou fazendo, mas incompetência nunca me impediu de me envolver com entusiasmo”. Nessa encenação de 2015, podemos assistir, ainda, ao desempenho impressionante de Plácido Domingo, numa rara oportunidade de vê-lo num papel cômico. A noite comemorava o trigésimo aniversário da Opera de Los Angeles e o filme foi exibido, depois, num telão na Praia de Santa Monica, na Califórnia.

O toque cômico de Woody Allen irá deliciar veteranos e novatos das plateias de ópera desde seu começo. Embora o libreto da ópera localize a ação na Florença de 1299, este Gianni Schicchi começa com uma montagem cômica de créditos no cinema, todos com nomes italianos satirizados como Giuseppe Prosciutto e Oriana Fellatio, enquanto uma banda toca “Funiculì, funicula”, ao fundo. Mesmo que um pouco boba, a brincadeira define o tom para quando a música de Puccini começa e a cortina sobe. Com cenários e figurinos de Santo Loquasto – colaborador de Allen de longa data – a produção tem a aparência e o estilo de um filme em preto e branco. Em uma casa de dois andares em Florença, membros de uma família grande e barulhenta estão em torno do leito de morte de seu parente rico, Buoso Donati. Há massas cozinhando no fogão, roupas penduradas nos varais e um menino praticando golpes de faca. Na verdade, eles se parecem mais com imigrantes italianos em Nova York nos anos 50 – ou o que aprendemos nos filmes como eles deveriam ser – do que com florentinos dessa mesma época. De todo modo, é uma delícia!

Depois de uma animada abertura, os violinos se entristecem: o recém-falecido Buoso Donati é pranteado por sua família. Os violinos desaceleram para uma imponência irônica, e logo se percebe que a preocupação da família é com a fortuna do morto. O velho, porém, deixou todo seu dinheiro para os monges. Prontamente seus familiares engendram um plano para fazer o malandro Gianni Schicchi, pai de Lauretta (a soprano canadense Andriana Chuchman), jovem que caiu de amores por Rinuccio, um rapaz da família Donati. Como são quase sósias, ele pode fingir ser o morto e mudar o testamento em favor da família.

Lauretta oferece um momento brilhante de beleza lírica da ópera, na ária O mio Babbino Caro, cantada para convencer o pai a participar da farsa – como se ele precisasse ser convencido! Uma bela melodia típica de Puccini, que assoviaremos distraidamente nos dias posteriores ao espetáculo. A melodia reaparece sempre que é preciso lançar um brilho romântico sobre a comédia, e Lauretta é a inocente entre os canalhas, que Puccini tem o cuidado de desassociar do comportamento de seu pai.

Na cena final, Schicchi aborda o público dizendo que por seus pecados Dante o enviou ao inferno. Mas ele pede a indulgência de todos, perguntando que melhor utilização para aquele dinheiro do que financiar o casamento de sua filha Lauretta com Rinuccio? Fora alguns “cacos”, este é o único momento em que Woody Allen muda de maneira importante o original. A indomável Zita, uma das parentes traídas do falecido, volta à casa para vingar-se de Schicchi, em um final que não é original, e sim surpreendente.

Bom espetáculo!

 

Buoso Donati morre e deixa em testamento toda sua fortuna para igreja. A família, cobiçando a herança, chama Gianni Schicchi para se passar pelo morto e alterar o testamento. Todos estão cientes de que a pena para esse tipo de crime é o exílio de Florença e o corte da mão direita. Imitando o falecido, Schicchi dá um golpe em toda a família e deixa os bens mais preciosos para si mesmo.

EXIBIÇÕES do filme Gianni Schicchi